Sobre o podcast em tese
Ao ver um pesquisador em palestras, congressos ou nos videocasts espalhados por aí, nos defrontamos com o estereótipo da pessoa que parece ter constante domínio do conhecimento sobre seu trabalho.
Mas quem parte para a rotina de estudos e investigações baseadas na metodologia científica vê que, por detrás daquela meia hora de fala com informações interessantes, tem muito tombo, tempestade, solidão, ruas sem saída, burocracia, angústias, nãos, talvezes, recomeço e superação.
A proposta do podcast Em Tese é mostrar que a ciência dá um trabalho danado, e que os "super cientistas" são tão exceção quanto uma "super médica", uma "super modelo" ou um "super atleta". A rotina da ciência é um batidão no ponto de ônibus, é fazer o café pra turma da firma, é morar com banheiro compartilhado, é levar marmita e não sobrar um real da bolsa na bolsa depois de pagar a quinta parte da conta de luz na república de estudantes.
Nos primeiros episódios, os pesquisadores foram convidados a refletir como suas histórias de vida influenciaram suas pesquisas. Alguns lembram como, na infância, alguns sinais de suas linhas de interesse já se manifestaram, enquanto outros passaram por grandes reviravoltas até chegarem aos seus planos de pesquisa e interesses profissionais.
O projeto Vidas Invisíveis
A pandemia da COVID19 foi um violento divisor das nossas vidas. Naquele março de 2020 muitos planos foram literalmente cancelados. O podcast Em Tese também parou para se (re)posicionar. Mas o que abordar diante de tantas questões motivadas por um cenário global tão imprevisto e imprevisível? Diante dessa pergunta, resolvemos falar com o futuro. Elucidemos melhor como essa ideia vingou.
Em tese, para falar das experiências por detrás da ciência é preciso ouvir cientistas. Mas em que ponto a vida dá vida a cientistas? Onde estão aqueles que no futuro serão entrevistados como especialistas?
A melhor forma de pensar o futuro é trazer o futuro para conversar. Isso significava ouvir a geração que iniciava sua caminhada. O rascunho do roteiro estava pronto, e comecei a testá-lo, para ver qual seria sua aderência. Era março de 2020. Foi o piloto do piloto, com uma pandemia em curso.
As primeiras pessoas com quem falei, parte do círculo próximo, me deram a impressão de que eu estava no caminho certo. Só que o BR é muito mais que SP, e eu só tinha ouvido paulistas. Peguei a bússola, e ela me deu o Norte.
Assim como Marco Polo descreve suas cidades invisíveis na obra homônima de Ítalo Calvino, tracei uma rota que supostamente me levaria a arquiteturas de pessoas que retratariam obstáculos motivados pela ausência do Estado. Pensava em ilhas de vida, cercadas por adversidades, e cada qual com suas tempestades e fissuras. Buscava retratar e dar voz a um povo que sempre requereu atenção, mas não podendo esperar teve de dar seus pulos.
Foi melhor do que eu esperava. Encontrei seres humanos que amparam e se deixam amparar, e juntos criam seus próprios caminhos. Se a adversidade cria pessoas mais resilientes, taí uma qualidade que nossos futuros cientistas serão doutorados. Dessa experiência nasceu uma série especial de 6 episódios, que estão sendo veiculados agora, mês a mês. Interessante ver como a maturidade deste intervalo de três anos deu ainda mais atualidade para esta série.
Enquanto a série Vidas Invisíveis é publicada, já estamos preparando a nova temporada sobre pesquisadores e seus bastidores. Aproveite!
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