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equipe brasileira do projeto RRI Practice (Pesquisa e Inovação Responsável na Prática) realizou o Workshop Brasileiro de RRI no dia 16 de fevereiro, na Casa do Professor Visitante/UNICAMP. Com o título “Workshop Brasileiro de Pesquisa e Inovação Responsável (PIR): Como pensar/implementar a responsabilidade na pesquisa e na inovação?“, o evento trouxe para o workshop representantes de alguns dos principais atores brasileiros em ciência, tecnologia e inovação para uma discussão aberta e produtiva sobre responsabilidade na ciência e na tecnologia. Os tópicos discutidos incluíram o que esse termo significa no Brasil; os desafios e oportunidades existentes para a sua implementação no país e as iniciativas existentes em cada instituição.
As instituições representadas foram o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC); CAPES e FAPESP, ambos importantes financiadores de pesquisa nos níveis federal e estadual (São Paulo), respectivamente; a Embrapa Informática, unidade da Embrapa que se dedica à informática para a agricultura, localizada em Campinas; ITS Rio, um think tank associado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, com pesquisa ativa e trabalho político sobre os futuros digitais e a governança da internet no Brasil; a Fiocruz, que enviou representantes do Rio de Janeiro e Salvador, ambos envolvidos nas políticas de dados desta instituição; o CNPEM, Laboratório Nacional de Pesquisa de Energia e Materiais, sede do Sirius do Brasil, uma fonte luminosa de sincrotron de alto desempenho; e a pró-reitora de pesquisa da UNICAMP, Profa. Dra. Gláucia Pastore.
Da esquerda para a direita: Prof. Phillip Macnaghten, Wageingen University, Holanda; Luis Reyes-Galindo, pós-doutorando no Dept. de Política Científica e Tecnológica da UNICAMP; e Prof. Marko Monteiro, Dept. de Política Científica e Tecnológica da UNICAMP
As discussões foram animadas e as instituições pareciam muito abertas ao conceito de Pesquisa e Inovação responsável (PIR), muitas delas identificando nas missões de sua instituição vários dos valores relacionados à pesquisa e inovação responsável: servir a comunidade, prover pesquisa e desenvolvimento para garantir a melhoria da sociedade, compromisso com o acesso aberto, e a vontade de se envolver com a sociedade. Embora não da mesma forma como se pensa ou se aplica esse conceito da União Europeia, onde já é orientação concreta da política científica do bloco, percebemos no Brasil muitos valores que estão alinhados com uma perspectiva global da PIR em ciência e tecnologia. Isso aparece nas missões e valores institucionais, e também em diversos projetos implementados por essas organizações. O que não significa, é preciso dizer, que essas instituições implementariam a PIR ou mesmo que seus programas adotariam essa orientação de forma direta tal qual existe em países europeus (envolvendo ética, engajamento, igualdade de gênero, acesso aberto e educação científica). Mas existe certamente uma abertura geral às ideias decorrentes da PIR que, negociada de forma positiva, poderia se aproximar da prática institucional brasileira.
Prof. Phillip Macnaghten abre o Workshop
Os desafios à implementação da PIR também foram discutidos: alguns dos mais visíveis foram, como esperado, a falta de infraestrutura para implementar algumas das ações necessárias para concretizar a responsabilidade na pesquisa e inovação. Engajar-se com a sociedade ou tornar os dados científicos abertos muitas vezes custa dinheiro e requer infraestrutura nem sempre presente em um sistema sem recursos e sob constante incerteza institucional. Outro desafio mencionado está relacionado aos valores institucionais muito caros às instituições brasileiras, como a autonomia. Isso pode apresentar desafios às políticas ligadas à PIR, dependendo de como eles são projetados ou enquadrados: qualquer limitação da autonomia das instituições poderia em princípio gerar rejeição. O modo como a ciência e a pesquisa é conduzida no Brasil, muitas vezes através de conexões pessoais que permitem (ou tornam impossíveis) projetos ou políticas específicas pode ser pensado como um possível desafio, ou um caminho para a possível implementação de qualquer coisa iniciativa ligada à PIR.
Como disse o Prof. Phillip Macnaghten após o evento, houve um sentimento de otimismo, mesmo diante do momento político desafiador por que passa o Brasil. Apesar das grandes incertezas relacionadas ao financiamento da ciência e ao crescimento econômico em geral, os participantes pareciam otimistas com o futuro, diferente de outros países também afetados por conjunturas desafiadoras. O Workshop mostrou que há um desejo genuíno de construir laços e diálogo em torno da PIR no Brasil, o que poderia se tornar uma maneira de organizar políticas dispersas e iniciativas em muitas dessas instituições. Esperamos ajudar na promoção desse diálogo à medida que o projeto da Prática RRI progride.
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